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Reportagem

São Paulo anuncia volta às aulas presenciais obrigatória; veja quais são as medidas principais

O Estado de São Paulo anunciou o retorno obrigatório das aulas presenciais em toda a rede de ensino. A utilização de máscaras e álcool em gel permanece em vigor.


Ana Beatriz de Souza Assis, Giulia Moreira Aguillera, Lucas Gomes de Azevedo, Marcelo Zanardo Penna, Ricardo Dias de Oliveira Filho e Vinícius Pereira Vilas Boas




No dia 3 de novembro, 100% dos alunos das escolas públicas e privadas do Estado de São Paulo retornaram presencialmente às salas de aula. O governo estadual, no dia 18 de outubro de 2021, iniciou um processo de transição em que liberou o retorno obrigatório dos estudantes. Com isso, as instituições de ensino precisaram adaptar os ambientes de ensino, com medidas como o distanciamento mínimo de um metro entre as cadeiras e aprimoramento do sistema de ventilação.

Dessa forma, todas as escolas devem retornar, permanecendo obrigatório a utilização de máscaras, álcool em gel e equipamentos de proteção individual pelo corpo docente e funcionários. O distanciamento social não é mais uma medida obrigatória.

Em agosto de 2021, o governador João Dória (PSDB-SP) anunciou que 96% dos profissionais da rede estadual de ensino já haviam recebido, em pelo menos uma dose, a imunização contra a COVID-19. “São Paulo foi o primeiro estado a vacinar professores e profissionais de Educação e o primeiro estado a retomar as aulas de forma segura, para garantir às crianças e aos jovens o direito de voltarem às aulas, de se alimentarem e estarem amparados enquanto seus pais estão trabalhando ou em busca de um emprego”, afirmou o governador.

Apesar do retorno, ainda existem restrições aos grupos de risco. Gestantes, pessoas com comorbidades acima dos 12 anos que não tenham tomado a vacina e menores de 12 anos que apresentam condição de saúde vulnerável devem continuar a assistir às aulas por meio remoto, desde que os responsáveis apresentem ao colégio um atestado com parecer médico.

Em entrevista, a professora Beatriz Buff, da rede de ensino pública e particular, relata a importância do retorno às aulas presenciais: "O processo pedagógico ocorre na troca do coletivo, na observação das necessidades de aprendizagem de cada aluno, ou seja, é um fator determinante para a assimilação de conteúdo e desenvolvimento social. Eu acredito que o retorno será sempre o ideal. A única coisa que eu acho que deveria ter sido repensada é a questão da obrigatoriedade desse retorno no momento, a essa altura do campeonato, quase finalizando o ano letivo. Retornar é sempre o ideal, porém, acredito que deveria ser opcional, e não obrigatório.”

Apesar do retorno às atividades escolares, a professora também relata que o grupo pedagógico enfrenta novos desafios. “Pensamos, primeiramente, em suprir uma certa angústia. Devido a pandemia, muitos alunos desenvolveram problemas comportamentais, então além das necessidades de compor a parte de conteúdo do currículo referente à série, os alunos voltam com diversas aflições: o retorno ao cotidiano, rever os amigos, desenvolvimento de fobias, enfim, estamos com vários tipos de alunos com problemas novos que precisamos lidar. Agora atendemos crianças que ficaram por dois anos em uma pandemia que gerou problemas diferentes daqueles que já havíamos enfrentado", explica Beatriz.

O professor Rafael Blessa, da rede pública e particular de ensino, também acredita que o retorno ao cotidiano escolar é importante no âmbito pedagógico. "O retorno vai ser fundamental para voltar a rotina, voltar ao ritmo com os estudantes – visto que estávamos há muito tempo parados –, entender qual o grau de dificuldade que todos estão, voltar a se habituar, a conviver junto, entender os impactos psicológicos – que nós sabemos que foi muito grande na vida dos estudantes – e poder começar o ano que vem com mais organização. Acredito que, nesse último mês com a volta 100%, teremos um processo de adaptação para entender o que aconteceu, o que está acontecendo e iniciar o próximo ano com mais normalidade", relata o profissional.

“Tenho medo da escola não ser como era antes da pandemia.” Ryan Alves (19), estudante de escola pública, expôs seu maior medo com a volta às aulas presenciais. O aluno, autodenominado preto, faz parte do grupo mais atingido emocionalmente pela pandemia, de acordo com a pesquisa do Instituto Datafolha, realizada no ano de 2021 e encomendada pela Fundação Lemann em parceria com Instituto Natura, grupo este formado por estudantes de baixa renda e negros. “Achei o sistema EAD horroroso, não aprendi nada nos últimos dois anos, não consegui me adaptar às ferramentas de ensino”, Ryan completa que seu rendimento escolar piorou durante a pandemia. Apesar de seus pais não concordarem com a volta imediata às salas de aula, o aluno diz sentir-se animado em rever os amigos e voltar às práticas esportivas escolares. O entrevistado finaliza com sua excitação a uma “possibilidade de um ensino mais efetivo”, demonstrando sua perspectiva com a volta às aulas presenciais.

A coordenadora de ensino particular, Maria de Lourdes Mendes Carvalho, conta que o retorno presencial às aulas já têm regras estabelecidas pela secretaria de ensino. A coordenadora comentou a importância da cooperação dos funcionários: “No retorno às aulas presenciais obrigatórias, deve ser responsabilidade de todos os colaboradores da escola manter os protocolos de segurança, seguindo todas as orientações”, afirmando a eficácia de segurança com a colaboração de todos.

Porém, aos alunos, será necessária uma readaptação ao modelo de aula presencial e ao retorno de uma rotina escolar. “Aos professores, caberá dar o acolhimento aos alunos neste retorno, readaptá-los ao formato presencial e. principalmente, ter cautela para perceberem as perdas referentes ao domínio do conteúdo, bem como as perdas relacionadas a vida social desses alunos e a falta de amadurecimento das turmas, em função de terem perdido o espaço de convívio social da escola durante esse tempo de pandemia”, afirmou Maria após falar sua preocupação sobre as sequelas que a pandemia causou aos alunos que ficaram esse tempo sem um convívio social adequado.

Além disso, Maria cita: “Há preocupação, ainda, dos professores em como recuperar aprendizado dos conteúdos não assimilados pelos alunos nos anos letivos de 2020 e 2021 nos anos seguintes”, esclarecendo a preocupação dos professores durante o retorno às aulas, pela necessidade de recuperar conteúdos perdidos durante a pandemia, quando muitos alunos não obtiveram um bom aprendizado.

Para elucidar sobre a segurança nas voltas às aulas, o médico infectologista Dr. Marcelo Gallote também cedeu uma entrevista. O profissional da saúde afirma que esse é o momento propício ao retorno das atividades presenciais. “O Brasil atravessa o melhor momento da pandemia. Nesse momento, a média móvel de mortes gira em torno de 250 indivíduos por dia. Em 2021, nós nunca vimos isso. Só para se ter uma noção: em abril de 2021, o número de mortos era em torno de 3.500 ao dia. Então, realmente o momento é muito bom", explica Marcelo. No entanto, o médico chama a atenção para a importância de manter os cuidados: "Todos os países que tentaram a flexibilização antes desses dois números caírem aos níveis mais baixos com um índice de vacinação acima de 80% se arrependeram muito. O momento ideal para retomar as aulas seria aquele em que você oferecesse as condições. Uso de máscaras, álcool em gel, lavagem de mãos, distanciamento etc. É importantíssimo que sejam garantidos.”

Ao ser questionado se os pais e responsáveis devem se manter tranquilos ou não com o retorno das aulas presenciais, o médico comentou: “Com a vacinação em andamento, eu diria que, se a escola estabelecer um passaporte sanitário – um passaporte de vacina –, e, se os pais conseguirem ter um diálogo com a escola onde eles possam verificar o distanciamento das carteiras escolares, o cuidado com o uso de máscara, quantos professores estão envolvidos nesses procedimentos [...] dá para ter uma situação muito, muito segura.”

Outro fator que deve ser levado em conta na volta das aulas presenciais são os indivíduos com comorbidades. O infectologista explica que há diferentes níveis de complicações que podem afetar o sistema imunológico e, por isso, aconselha que o aluno passe por uma avaliação médica antes de retornar às atividades. Dessa forma, o profissional responsável vai informar com propriedade qual a melhor opção em determinados casos.

Marcelo ressalta ainda a importância de manter as medidas de segurança para continuar o avanço em direção ao fim da pandemia. "A COVID-19 é uma guerra. E, em guerras, é fundamental que você use todas as armas que você tem até vencê-la totalmente. Esse 'sucesso' que conseguimos em função da vacinação não pode ser o único", define o profissional. Portanto, para a volta segura das aulas, é preciso manter todas as medidas de saúde complementares. O avanço da vacinação não significa que outras formas de prevenção podem ser descartadas, principalmente para os estudantes que ainda não estão dentro da faixa etária de imunização.

O retorno ao ambiente escolar representa um grande passo para a volta das atividades sociais, desde as mais básicas até as de maior risco. No entanto, a readaptação tem exigências e, por isso, é importante dar um passo de cada vez para não regredir nesse processo. Marcelo também destaca que a vacina é a grande protagonista da flexibilização, e que é essencial que, todos indivíduos que puderem receber as doses, realizem a imunização completa.






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