Com a disparidade da possibilidade de acesso à educação à distância (EaD) enquanto
instituições de ensino estiveram fechadas em 2020 e 2021, o despreparo para o retorno das
aulas presenciais se mede em cédulas
Gustavo Pereira de Lima, Maria Clara Alcântara, Maria Clara Tanaka Sartini, Maria Eduarda dos Anjos Moura, Isadora Taveira e Sophia Dolores
A falta de acesso à educação no Brasil é uma realidade dolorosa. Enquanto muitos
alunos conseguiram permanecer estudando em casa durante a crise sanitária através de
celulares e computadores, o contexto da maioria dos jovens brasileiros não foi esse -
grande parte permaneceu completamente desconectado. Segundo o CGI, Comitê gestor de
internet no Brasil, 58% das residências não possuem computadores e 33% não têm acesso
à internet. E as consequências são graves: cerca de 617 milhões de crianças e
adolescentes em todo o mundo não atingem níveis mínimos de conhecimento em leitura e
matemática, embora dois terços deles estejam na escola.
Analisando dados fornecidos pela UNICEF, o Brasil possui 4,8 milhões de crianças e
adolescentes estão sem acesso à internet em casa. Ou seja, 17% de todos os brasileiros na
faixa de 9 a 18 anos não possuem alternativas para adquirir conhecimento em seu próprio
lar.
A estudante do cursinho popular da FEAUSP, Djulia, afirma que o modelo de ensino
híbrido, adotado em 2020 dentro de uma crise sanitária, política e econômica no Brasil,
evidencia o descaso dos governantes, em que milhares de estudantes não tiveram aulas
por quase dois anos por falta de internet, falta de equipamentos, falta de amparo emocional,
etc. [...] “todo esse déficit foi nitidamente evidenciado no número de inscritos no Enem, em
que houve o menor número de inscritos desde 2005, logo, as consequências são inúmeras,
das quais posso citar o desemprego acentuado, se as pessoas não tem uma
especialização, aumentam-se trabalhos informais e precários, análogos à escravidão,
então, o retrocesso de 10 anos é extremamente preocupante e prejudicial”, declara Djulia.
Acumular um conjunto de informações não parece ser um obstáculo ao jovem do
século XXI. Com perguntas e soluções na palma das mãos, os mais ricos são privilegiados
por conseguirem transformar capital financeiro em capital de conexão. Assim, a
desigualdade digital está diretamente ligada a quem pode ou não alimentar seu crescimento
intelectual e bagagem cultural. Além de ser uma perda gigante, é o repaginamento para a
era digital o estereótipo de que pessoas pobres são ignorantes, não procuram a cultura, a
informação, e optam por ficarem no senso comum e serem massa de manobra.
A volta às aulas presenciais em 2022 com o relaxamento das normas sanitárias não
é a “volta à normalidade”, já que o déficit de aprendizado será carregado pelos alunos no
seu caminho de volta. Dessa forma, a educação do Brasil mostra suas verdadeiras cores:
um privilégio que apenas a elite tem acesso.
Para diminuir o déficit, a PUC-SP buscou meios para que alunos de baixa renda não
tivessem tantos prejuízos ao retornar às aulas presenciais, previsto para o próximo
semestre da universidade. Em entrevista ao Ponto e Vírgula, a professora Karlene Campos,
de Língua Portuguesa do curso de jornalismo da PUC-SP, mencionou a preocupação que a
instituição tem com esses alunos, “A PUC disponibilizou equipamentos para os alunos de
baixa renda, computadores e pacotes de dados para aqueles que não podem pagar”, disse
também que participa, junto com outros professores da instituição, de um projeto de inclusão digital, que busca formas de inclusão de estudantes por meio de computadores de baixo custo para as pessoas.
Apesar de ainda estar em fase de pesquisa, ela comentou que isso demonstra a
preocupação da universidade com a inclusão.
Outra preocupação veio do curso de Psicologia da Universidade. Preocupados com
a saúde mental dos estudantes, diversos serviços de apoio e de acolhimento a estudantes e
docentes foram oferecidos pelo curso. “Ninguém estava preparado para ter aula assim,
muitos relataram falta de foco, falta de atenção, tristeza. No começo achávamos todos que
isso ia durar 15 dias e já estamos com 1 ano e pouco, quase 2 anos”. A docente disse que a
universidade agiu rapidamente sobre essa questão e no durante a pandemia ofereceu
oficinas pedagógicas para auxiliar os docentes a diversificarem estratégias de ensino e
aprendizagem no ensino remoto.
Karlene ainda comentou sobre a retomada segura das aulas presenciais na
universidade, que acontecerá se tudo ocorrer como previsto, considerando as condições
sanitárias, no próximo semestre. Essa decisão de não retornar agora, mas apenas no ano
que vem foi tomada principalmente para que os alunos possam tomar as duas doses da
vacina e para que aqueles que estudam na PUC-SP, mas moram em outras cidades
possam se organizar melhor. A professora contou que a faculdade contratou a consultoria
do Hospital Sírio Libanês para implementação dos protocolos de segurança, “O Sírio é
quem dá as coordenadas, por exemplo para ver quantas pessoas podem estar juntas, como
a gente organiza o espaço físico para que as pessoas não fiquem em uma aglomeração,
quais são os cuidados que a gente tem que apresentar para os alunos e docentes na
retomada, o que eles têm que saber e como isso vai ser fiscalizado pelo pessoal da PUC”.
Por fim falou sobre a expectativa da faculdade sobre a volta dos alunos ao campus:
“Estamos bem ansiosos, a gente quer muito que as pessoas voltem, que as coisas voltem
ao que a gente entendia como normal, mesmo sabendo que esse novo normal vai sofrer
impactos e ele vai ser outro. Mas queremos muito voltar o contato, aquela vivência do
campus que é impagável, a gente espera que seja uma experiência bastante positiva”.
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