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  • Crônica jornalística

Ouvi dizer

Anna Cecilia Nunes, João Curi, Laura Melo, Marcello Toledo, Maria Ferreira dos Santos, Matheus Marcolino, Sonia Xavier



Primeiro semestre. Ouvi dizer que a arquitetura antiga é o que tem de mais bonito por lá. Os jardins, os pátios, conhecer gente nova, quebrar o peso dos estudos quando o ritmo apertar. Também me contaram que os estudantes passam bastante tempo na Prainha, que não tem areia nem água, mas traz o refresco do litoral para o meio da cidade. São tantas histórias, que só de ligar o computador meu coração já acelera. Digito login e senha e pronto. Estou oficialmente começando minha vida universitária na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Os professores dão as boas-vindas, apresentam o curso, toda aquela cerimônia de abertura. Quando me dou conta, a chamada chega ao fim e tenho que esperar o amanhã chegar. “Os melhores anos da sua vida”, eles disseram. A expectativa é alta. Como será que são as salas? - espera, bateria fraca. Onde deixei meu carregador mesmo? Esse professor tem cara de que preenche a lousa toda. Gostei dele, tem praticamente uma biblioteca em casa, olha quantas estantes cheias de livros.

Veio bastante gente hoje, mas é tanto nome sem foto que nem parece uma turma de verdade. Talvez todo mundo se conheça melhor na Prainha ou num bar depois da aula. Tem que acontecer, faz parte da vida universitária. Pelo menos é o que ouvi dizer. A graça de fazer faculdade é ter a liberdade que não eu não tinha na escola, mas autonomia e tempo livre perdem o sentido quando tudo que você precisa fazer acontece dentro de casa.

Eis que, depois de todos os meses de isolamento e adentrando tempos mais seguros, surge um novo primeiro dia. É uma amostra dos estudos presenciais, acompanhados de máscaras e regados em álcool-gel. Nunca fiz tanta questão de pegar um ônibus. O trajeto guardava tanta expectativa que não me importei com a demora. O que era uma hora perto de meses?

Desço do ônibus. Subo a rua e já avisto a famosa arquitetura antiga. A vontade é de parar e ficar ali observando. É realmente tão bonita quanto descrevem. Os arcos,

os jardins, as cores, tudo parece ser parte de um sonho. Depois de meses estudando aqui, demoro para processar que estou, de fato, aqui. Chego maravilhado com tudo, faço a checagem de temperatura e sigo. Todos parecem estar tão animados quanto eu. É uma pena não podermos nos abraçar, nunca pensei que um dia distanciamento fosse ser sinal de cuidado conosco e com o outro.

Quantas histórias esses prédios antigos abrigam? Milhares, imagino. Espero colecionar diversas recordações por esses corredores, talvez com os colegas que acabo de conhecer, ou melhor, colegas que acabo de reconhecer pelas suas vozes. Agora parece de fato uma turma, com rostos, conversas e sorrisos. Ah, os sorrisos! Mesmo não os vendo, sabemos que estão lá, devido à expressão dos olhos. Eles parecem até brilhar diante do carnaval de máscaras - tinha de todo tipo: preta, colorida, branca, azul, descartáveis.

Gostei de cara de todos os professores, eles são tão atenciosos conosco. O ensino remoto deve ser difícil para eles também; ouvi dizer que estão tão desejosos para retornar ao presencial quanto nós. A professora recebeu todos com muito carinho, disse que sentia falta da atmosfera tão energizada e jovial da universidade. Fiquei encantado, confesso. A aula foi ótima! O tempo passou voando e logo eu já estava voltando.

Fico contente por minha primeira memória na PUC-SP ter sido proveitosa. Conto os segundos para estar lá novamente, dessa vez de maneira definitiva, não somente por um dia e acredito que esse sentimento seja o mesmo dos demais estudantes e funcionários. Porque não há software que substitua a qualidade do ensino presencial, a troca de conhecimentos entre um debate e outro na sala de aula, as risadas na Prainha e a galera no Juca.

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